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Quando a Comunicação Celular resulta mal …

No nosso organismo, as células estão constantemente a enviar e a receber sinais. Mas o que acontecerá se uma célula não enviar um sinal na hora certa? Ou se o sinal não chegar ao seu destino? E se uma célula-alvo não responde a um sinal? Ou uma responde, mesmo que não tenha recebido um sinal?

Estes são apenas alguns dos erros relativos à comunicação celular, e a sua gravidade é tal que podem resultar em doença. Na verdade, a maioria das doenças envolvem pelo menos uma falha na comunicação celular.

 
A Perda De Sinal

O alimento que ingerimos é composto por moléculas complexas de açúcar, as quais entram na corrente sanguínea. Habitualmente, as células do pâncreas liberam um sinal, chamado insulina, que informa outros órgãos, como o fígado, os músculos e as células de gordura para armazenarem esse açúcar, podendo, posteriormente, ser utilizado.

No entanto, se, por alguma razão, essas células cometerem certo tipo de erro, tal poderá resultar nalguns tipos de doenças, como é o caso da diabetes do Tipo I. 

Nesse caso, as células pancreáticas que produzem insulina são perdidas. Por conseguinte, o sinal de insulina também é perdido. Logo, o açúcar acumula-se em níveis tóxicos no sangue.

Trata-se de uma doença sem tratamento, que pode levar à insuficiência renal, cegueira e doenças cardíacas na vida adulta.

Regulação Normal do Açúcar no sangue, posterior à entrada do alimento

(1) O alimento é ingerido. (2) O açúcar do alimento entra na corrente sanguínea. (3) O açúcar estimula as células do pâncreas para a libertação de insulina (4) A Insulina viaja através do sangue para outras células no corpo e emite sinais para as células darem uso ao açúcar

 
Quando um sinal não chega ao seu destino

A esclerose múltipla é uma doença na qual os sistemas de protecção à volta das células nervosas existentes no cérebro e na espinal-medula, os neurónios, são destruídos.

As células do nervo afectado não conseguem mais estabelecer a comunicação entre as diferentes áreas do cérebro.

Os danos nos nervos causados pela esclerose múltipla levam ao aparecimento de muitos problemas, incluindo a fraqueza muscular, visão turva ou visão dupla, dificuldade no equilíbrio, movimentos descontrolados e depressão.

 
Quando a célula-alvo ignora o sinal

A diabetes do Tipo I e do tipo II apresentam sintomas muito semelhantes, apesar das suas causas serem diferentes.

Enquanto que as populações afectadas pela diabetes do tipo I são incapazes de produzir o sinal de insulina, as com diabetes do tipo II produzem insulina. O que acontece é que as células de diabéticos do tipo II perderam a capacidade de responder à insulina. O resultado final é o mesmo – os níveis de açúcar no sangue tornam-se perigosamente elevados.

 
”Sinal a mais”

Um derrame ocorre quando surge um bloqueio entre um vaso sanguíneo. Dá-se, por isso, a interrupção da comunicação do fluxo sanguíneo para uma parte do cérebro, que origina a morte dos neurónios próximos dessa área.

Quando essas células morrem libertam uma molécula sinalizadora, a “glutamate” (inglês).

As baixas concentrações dessa molécula controlam muitas acções no cérebro, porém, em altas concentrações, torna-se tóxica para as células.

Através de um processo denominado excito toxicidade, a “glutamate” dispersa-se através do cérebro e mata as células que não foram afectadas pelo bloqueio, muitas vezes originando o dano cerebral generalizado.


Várias quebras na comunicação celular

O Crescimento e divisão celular são processos tão importantes que estão sob um controlo bastante apertado com muitas verificações e balanços.

No entanto, mesmo assim, a comunicação celular pode quebrar.

O resultado é o crescimento celular descontrolado, que muitas vezes origina o cancro. Este pode ocorrer de várias formas, mas exige várias repartições de sinalização. Muitas vezes, o cancro começa quando uma célula ganha a habilidade de crescer e de se dividir, mesmo na ausência de um sinal. Normalmente, este crescimento não regulado acciona um estímulo de auto-destruição.

Porém, quando a célula perde também a capacidade de responder a esses estímulos, divide-se fora de controlo, formando um tumor.

Mais tarde, os sinais de comunicação celular transmitem estímulos que fazem crescer os vasos sanguíneos envolventes do tumor, promovendo o seu crescimento.

Outro tipo de sinais permitem o desenvolvimento do cancro, espalhando-se, assim por outras partes do corpo, são as metástases. 

 

Mecanismos que mantém o crescimento celular adequado: sinais externos que originam a divisão.



 (1). Acção de enzimas na reparação do DNA danificado (2). As células estabelecem contacto com as suas “vizinhas” (3). Se essas ligações mudarem repentinamente, as células vizinhas enviarão um alerta. Assim, as células vão permanecer dentro dos limites de tecido (4). Se uma célula não estiver em contacto com a zona de reparo, ela inicia a sua própria morte (5).

 

Tratamentos

Assim como a comunicação entre células pode não dar certo, resultando numa doença, muitos dos tratamentos das doenças apoiam-se na comunicação celular.

Se pensarmos numa doença, como uma barreira na comunicação celular, o tratamento é uma rota alternativa.

O primeiro passo é localizar o problema. O segundo passo é encontrar uma maneira de contornar o problema. Às vezes é fácil. Por exemplo, o tratamento para a diabetes tipo I é injectar insulina na corrente sanguínea.

Outras vezes é mais difícil, especialmente em doenças como o cancro, na qual a comunicação celular foi quebrada em vários lugares. Por exemplo, durante um ataque de asma, as moléculas de sinalização provocam um estreitamento das vias respiratórias nos pulmões, dificultando a respiração.
Muitos medicamentos que tratam asma imitam os sinais naturais que dizem às células musculares dos pulmões para relaxar, permitindo a respiração para abrir passagens.


 

 

Filipa Bica Simões